terça-feira, 28 de abril de 2009

Carlos

(imagem Flickr)


Ele nasceu em um interior no nordeste, teve quatorze irmãos, dos quais cinco morreram, e até hoje ele não sabe direito de que. Já estava ficando “normal” um indefeso chegar ao fim mais rápido do que o tempo de gestação da mãe, tanto que Carlos procurava nem se apegar tanto aos irmãos que iam chegando depois dele.
Uma vida difícil a que levavam naquela cidadezinha pacata, onde os vizinhos sabiam a árvore genealógica de todos ao redor... “Ah! É fulaninho Júnior filho de Fulano da Silva?!”.
De todas as coisas que ele sente falta da infância, mesmo diante daquela pobreza, era ver a mãe montando no cavalo e galopando por aí... Ela era capaz de dar o sangue pelos seus filhos.
Se você olhar para a mão direita dele vai ver uma cicatriz, que foi adquirida quando uma das irmãs mais velhas estava a engomar roupas;ela ouviu uma zoada estridente de motor de carro, que era algo raro nessa época... A moça passava as roupas na mesma mesa que o garoto fazia a refeição, na pressa para sair do cubículo para observar o carro que passava jogando a terra seca para cima,colocou o ferro de lenha em cima da mão dele.
Hoje o homem conta com um meio sorriso cheio de marcas, que eles bebiam o caldo do feijão de manhã e comiam os caroços à noite, não sei se carrega na expressão orgulho por ter passado por essa fase dignamente, ou, tristeza ao lembrar-se dessa parte da história. Eu fico com a primeira opção. Carlos tem uma força no olhar e nas palavras que vi em pouquíssimas pessoas até hoje, é sofrer com os problemas, mas fazer de um tudo para olhá-los de cima, por mais que eles pareçam estar ao lado tentando sufocar, e essa capacidade é para os fortes.
A família teve que se mudar, pois a prefeitura comprou as terras de sua cidade natal a preço de banana para fazer uma reserva de água para abastecer a capital, onde eles decidiram ir morar.
O pequeninho teve que começar a trabalhar com onze anos de idade, nunca soube o que era passar uma tarde de sol intenso brincando com outros da sua idade, principalmente depois que seu pai os abandonou. Pode até parecer estranho, mas ele sentiu certo alivio... Só de não ter que ver a mãe levar tapas de um bêbado que deveria ser seu exemplo de homem, tirava um peso enorme de seu ser e lhe dava forças para trabalhar e estudar, muitas das vezes sem tempo de comer direito e de dormir até tarde nos finais de semana...
Perto dos seus dezoito anos, Carlos conseguiu emprego em uma loja como auxiliar de serviços gerais, muito esforçado, foi subindo de cargo até se tornar gerente da loja.
O seu primeiro salário de gerente rendia tanto para um rapaz sem luxo, sem grandes vontades, que ele jurava estar rico! O colorido daqueles tecidos os quais eram vendidos lá parecia o arco-íres, e no final dele sempre tinha um baú de ouro escondido por um duende que parecia ser um pouco lesado por ter deixado ao alcance... Essa foi uma ótima época de sua vida.
E nesse bom tempo o rapaz conheceu a mulher de sua vida, essa parte da história ele não conta direito, aliás, não conta nenhuma parte da história direito, mas essa muito menos.
Carlos faz o tipo durão, um bombom de casca crocante e recheio mole... Um coração enorme, maior do que seu ser possui o protagonista.
Casou, e nas fotos do casório ao vislumbrar o sorriso dele imagino que cabe um mundo cheio de... E somente... Coisas felizes.
Aqui ainda não se encaixa o “felizes para sempre”...
Depois continuo essa história, mente cheia de calos, pensamentos interrompidos por alguém que fala tão perto, mas parece estar tão longe, meu nome está sendo ouvido como se estivesse sendo gritado dentro de um túnel...

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